O 7 de Setembro em documentos

Em fins de agosto, a Maçonaria no Brasil se organizava e enviava emissários como Antônio de Menezes Vasconcellos Drummond que, chegando de Pernambuco para onde fora comissionado por José Bonifácio, traz informações e cartas inquietantes. As Cortes em Lisboa chamando o Príncipe de “rapazinho”, ordenam seu imediato regresso e ainda o aprisionamento de Bonifácio.
Encontra-se no magistério muitos professores que preferem minimizar (ou mesmo ridicularizar) os fatos que tiveram lugar às margens do Ipiranga naquela data. Não me conto entre estes. Quem dera os governantes de hoje tivessem a mesma coragem!
A documentação comprobatória é muito extensa e está à disposição do pesquisador. À falta de maiores habilidades ou mesmo confiança no método chamado de “viagens astrais”, atenho-me à documentação. Cito aqui, a título de exemplo, a carta do Padre Belchior, de 1896, mencionada por José Castellani em sua página e que diz, em seus pontos principais, o seguinte:
“O príncipe mandou-me ler alto as cartas trazidas por Paulo Bregaro e Antônio Cordeiro. (...) D. Pedro, tremendo de raiva, arrancou de minhas mãos os papéis e, amarrotando-os, pisou-os e deixou-os na relva. Eu os apanhei e guardei. Depois, abotoando-se e compondo a fardeta – pois vinha de quebrar o corpo à margem do riacho do Ipiranga, agoniado por uma disenteria, com dores, que apanhara em Santos – virou-se para mim e disse:
_ E agora, padre Belchior?
E eu respondi prontamente:
_ Se V.A. não se faz rei do Brasil, será prisioneiro das Cortes e talvez deserdado por elas. Não há outro caminho, senão a independência e a separação.
D. Pedro caminhou alguns passos, silenciosamente, acompanhado por mim, Cordeiro, Bregaro, Carlota e outros, em direção aos nossos animais, que se achavam à beira da estrada. De repente estacou-se, já no meio da estrada, dizendo-me:
_ Padre Belchior, eles o querem, terão a sua conta. As Cortes me perseguem, chamam-me, com desprezo, de rapazinho e brasileiro. Pois verão agora o quanto vale o rapazinho. De hoje em diante estão quebradas as nossas relações: nada mais quero do governo português e proclamo o Brasil para sempre separado de Portugal!
(...) E arrancando do chapéu o laço azul e branco, decretado pelas Cortes, como símbolo na nação portuguesa, atirou-o ao chão, dizendo:
_ Laço fora, soldados! Viva a independência, a liberdade, a separação do Brasil.
(...) O príncipe desembainhou a espada, no que foi acompanhado pelos militares; os paisanos tiraram os chapéus. E D. Pedro disse:
_ Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro fazer a liberdade do Brasil.
(...) Firmou-se nos arreios, esporeou sua bela besta baia e galopou, seguido de seu séquito, em direção a São Paulo, onde foi hospedado pelo brigadeiro Jordão, capitão Antônio da Silva Prado e outros, que fizeram milagres para contentar o príncipe.
Mal apeara da besta, D. Pedro ordenou ao seu ajudante de ordens que fosse às pressas ao ourives Lessa e mandasse fazer um dístico em ouro, com as palavras “Independência ou Morte”, para ser colocado no braço, por um laço de fita verde e amarela. E com ele apareceu no espetáculo, onde foi chamado o rei do Brasil, pelo meu querido amigo alferes Aquino e pelo padre Ildefonso (...)”